A alma da tradição
Na Pinheira, assim como em outras praias da região, essa tradição vem lá de trás, dos tempos dos nossos avós e bisavós açorianos. Chegaram aqui trazendo o jeito de pescar, de fazer mutirão, de cuidar do mar como quem cuida da vida.
Cada inverno, quando a tainha resolve riscar nossas águas, os pescadores se preparam como se fossem pra uma festa — só que uma festa que exige força, atenção e muito respeito pela natureza. Tem reza, tem café forte de madrugada, tem olho no mar e fé na sorte.
O cerco da tainha
A técnica ainda é, em muitos lugares, artesanal. Tem o vigia, que sobe nos costões pra enxergar o cardume — o “bicho” passando. Quando vê, grita, assovia, corre! E a correria começa na areia.
É uma dança cronometrada: os cercos são jogados com precisão, os barcos partem, os remadores cantam pra dar ritmo e ânimo, e quem tá em terra firme puxa a rede com toda a força do braço — e do coração.
“Entrou tainha na Pinheira!” — e o burburinho se espalha. Quem é daqui, sabe que esse é um dos sons mais bonitos do outono-inverno.
Muito mais que pesca
A tainha não é só pro pescador. Ela movimenta a vila toda: padaria abrindo mais cedo, criança na escola fazendo desenho da pesca, turistas que vêm pra ver de perto a tradição, e até gente que larga tudo só pra ajudar na rede e ganhar uns peixes de presente.
Na Pinheira, pescar tainha é viver em comunidade. É o momento em que o mar e o povo se entendem sem precisar de palavra.
Respeito, cuidado e futuro
Mas também é tempo de cuidado. Com o mar, com o que se pega e com quem vai vir depois. Por isso, muitos grupos estão se organizando pra manter viva essa tradição sem deixar de lado o respeito pelo meio ambiente. Tem mutirão de limpeza de praia, tem palestra nas escolas, tem conversa com os mais velhos pra passar o conhecimento adiante.
A tainha é parte da alma da Pinheira, e como toda alma, precisa de carinho, cuidado e continuidade.
Cada rede puxada é uma história que se repete, mas nunca igual. A pesca da tainha na Pinheira é dessas coisas que a gente sente no peito — seja pescador, morador ou visitante. É poesia do mar em forma de tradição. E enquanto houver mar, fé e gente disposta a manter a cultura viva, a tainha vai continuar chegando. E o coração da Pinheira vai continuar disparando.