O jeito de falar: um som que atravessou o tempo
“Ó, não te fresqueia!” – se você já ouviu algo assim por aqui, saiba que está diante de um dos traços mais marcantes da herança açoriana: o sotaque e as expressões típicas. O falar cantado, os erres puxados e algumas palavras que podem parecer engraçadas para quem vem de fora são um verdadeiro patrimônio imaterial. É comum ouvir um “bóia” para se referir à comida, “arrochado” para algo muito apertado, e o clássico “tanso”, que é uma maneira, digamos, carinhosa de chamar alguém de atrapalhado.
Tradição no prato: da pesca à cozinha
A influência açoriana também se vê na comida. O peixe e os frutos do mar sempre foram a base da alimentação dos colonizadores e continuam sendo até hoje. Quem nunca se deliciou com uma tainha na brasa ou um pirão bem temperado? A pesca artesanal, com redes de arrasto e tarrafas, é um conhecimento passado de geração em geração. No inverno, a temporada da tainha se transforma num verdadeiro evento cultural, onde toda a comunidade se envolve, seja pescando ou torcendo pela melhor puxada.
Festas e religiosidade: fé e alegria
As festas religiosas são outro traço forte que os açorianos deixaram por aqui. As festas do Divino Espírito Santo, por exemplo, ainda acontecem com procissões, comidas típicas e celebrações que unem a comunidade. E tem também as festas em homenagem aos santos padroeiros das vilas de pescadores, onde a mistura de fé e festa faz parte do cotidiano do povo.
A arquitetura e o modo de vida
As casinhas baixas e coloridas com janelas de madeira e portas duplas são uma herança dos antigos açorianos. Apesar das mudanças urbanas, muitas dessas construções ainda podem ser vistas pelas ruas das praias de Palhoça, especialmente na Enseada do Brito. O estilo de vida simples e conectado com o mar também é um reflexo dessa origem. Por aqui, o tempo parece andar um pouco mais devagar, e a relação com a natureza ainda é um dos pilares da comunidade.
A herança que vive no presente
Mesmo com o crescimento urbano e a chegada de novos moradores, a cultura açoriana segue forte e se renova. Seja na forma de falar, no jeito acolhedor das pessoas, nas festas, na comida ou no próprio ritmo de vida, os traços desse povo resistente e trabalhador continuam presentes, fazendo das praias de Palhoça um pedaço autêntico da história açoriana no Brasil.
Seja morador ou visitante, quando caminhar por essas praias e ouvir um “olhó lhó”, lembre-se: essa terra tem memória e tradição, e cada onda que bate na areia traz consigo um pouco dessa história.
